O banco Standard considera que o programa de reformas estruturais em Angola, juntamente com o fortalecimento do sector petrolífero, são cruciais para garantir o regresso à estabilidade macroeconómica, depois de três anos de recessão. Ou seja, repete a João Lourenço o que já aconselhava a José Eduardo dos Santos.
“O programa de reformas estruturais, combinado com iniciativas para fortalecer o sector petrolífero, continuam críticas para ajudar ao regresso da estabilidade macroeconómica”, lê-se no relatório de Julho sobre as economias africanas.
No documento, elaborado pelo departamento de estudos económicos do Standard Bank, os analistas dizem que a pressão na balança de pagamentos “vai continuar a ser uma característica da economia angolana”, cujas exportações de petróleo valem 96% do total.
Importa, contudo, salientar que a situação se deve ao facto – tantas vezes esquecido – de que o MPLA aina não teve tempo para pôr o país em ordem. Isto porque só está no Poder há… 44 anos.
Na análise aos principais desenvolvimentos financeiros em Angola, os analistas do Standard Bank vincam que o mercado cambial angolano deverá receber algum apoio da recente aprovação de mais um desembolso do Fundo Monetário Internacional (FMI), no valor de quase 250 milhões de dólares (221 milhões de euros), elevando o total de ajuda financeira já recebida para 1,24 mil milhões de dólares (cerca de 1,1 mil milhões de euros).
Considerando que Angola não deverá voltar a emitir dívida pública em moeda estrangeira, “como parte dos esforços de consolidação orçamental”, o Standard Bank afirma ainda que “o Banco Nacional de Angola deve abrir contas de capital como instrumento para atrair fluxos estrangeiros de capital para o mercado de dívida em moeda local, o que poderia aliviar as pressões de liquidez da moeda estrangeira” enquanto as reformas não surtem o efeito desejado de atrair investimento directo estrangeiro para diversificar a economia”.
A moeda angolana terminou a semana a cair frente ao euro (391,404 kwanzas/euro) e renovou os mínimos históricos face ao dólar (347,667 kwanzas/dólar) que tinham sido alcançados a 01 de Julho, segundo o Banco Nacional de Angola.
Em Janeiro, um euro equivalia a 352,828 kwanzas, enquanto o dólar era transaccionado a 310,158 kwanzas, mas a situação tem piorado desde então e na sexta-feira o euro estava a valer entre os 500 e 520 kwanzas, o mesmo acontecendo ao dólar, trocado entre os 430 e 440 kwanzas no mercado paralelo.
Em 2018, o Standard Bank considerou que o crescimento económico de Angola nesse ano seria “bastante mais lento” que os 4,9% previstos pelo Governo. O FMI esperava então um crescimento de 2,2%. Como sempre, boas (para os mesmos) contas faz o Executivo.
A unidade de análise económica do Standard Bank considerava que o crescimento económico de Angola serua “bastante mais lento” que os 4,9% previstos pelo Governo no Orçamento do Estado, mas sem apresentar uma previsão concreta.
“Com várias pressões sobre as reservas externas a manterem-se este ano, esperamos que o crescimento do Produto Interno Bruto seja bastante mais lento que a previsão do Governo no Orçamento para este ano (2018)”, escreveram então os analistas.
Por sua vez, o Fundo Monetário Internacional esperava um crescimento de 2,2% em 2018, o que representaria uma forte aceleração face aos 1% de 2017, mas ainda assim abaixo das necessidades de Angola para implementar medidas de diversificação e desenvolvimento económico.
No documento, os analistas diziam que “melhorar a gestão da dívida pública e da dívida avalizada pelo Estado, aligeirando as pressões sobre o serviço da dívida, juntamente com os esforços de consolidação orçamental” será um aspecto fundamental para melhorar a dinâmica económica de Angola.
A emissão de dívida pública no valor de 2 mil milhões de dólares e a moratória de seis meses sobre o repatriamento de capitais “podem ajudar a trazer algumas reservas estrangeiras para o mercado”, considerava o Standard Bank.
As iniciativas do Presidente João Lourenço para melhorar o cumprimento das regras internacionais e de governação “têm o potencial para aligeirar as preocupações com a fuga de capitais e possivelmente permitir o regresso de fundos que podem ter sido tirados ilegalmente do país”, concluíam os analistas.
Angola vive uma grave crise financeira e económica, decorrente da quebra da cotação do barril de crude no mercado internacional, situação que se reflecte ainda na falta de divisas no país, o que dificulta nomeadamente as importações, provocando várias restrições na gestão de moeda estrangeira.
O país enfrenta também dificuldades cambiais, tendo o BNA aumentado a venda de divisas (euros) à banca comercial angolana, que está sem acesso a dólares face à suspensão das ligações com correspondentes bancários internacionais.
Entre Agosto de 2016 e Julho de 2017, o banco central – que é o único fornecedor de divisas à banca comercial – aumentou a injecção de moeda estrangeira no mercado cambial primário, com vendas directas aos bancos.
No tempo da outra… “senhora”
Estávamos em Junho de 2017. A analista do Standard Bank que, supostamente, seguia Angola considerou em declarações à Lusa que o país não estava a fazer investimentos significativos nos sectores não petrolíferos, falhando assim a diversificação económica necessária para evitar choques externos. Samantha Singh julgava ter descoberto a pólvora.
“A economia não se diversificou suficientemente; as autoridades fizeram alguns esforços em 2009 e 2010, mas depois os preços do petróleo subiram novamente e os esforços não continuaram”, considerou Samantha Singh.
Para a analista que seguia o mercado angolano, “o Governo percebe a importância da diversificação económica e a maioria das autoridades do país percebe que tem de acelerar a diversificação e há melhoramentos nos investimentos em agricultura e na manufactura, mas não são significativos”.
Ou seja, o Governo teria de fazer, mas este do MPLA que está no poder há 44 anos, nunca o fará. Por alguma razão há dezenas de anos, mas sobretudo a partir de 2002, todos aqueles que pensam com a cabeça certa reivindicam a urgência dessa diversificação económica.
Questionada sobre se a diversificação económica, uma das apostas repetidamente prometidas pelo Presidente da República, com a aprovação do Titular do Poder Executivo e do Presidente do MPLA, mas nunca concretizada numa escala minimamente suficiente que permita proteger o país da volatilidade dos preços das matérias-primas, poderia avançar com um novo Presidente da República, Singh disse que “tem de se esperar para ver”.
“O novo Presidente vai querer tomar o pulso, não avançando para reformas bruscas, mas os mercados têm uma perspectiva relativamente positiva porque também o povo quer uma mudança; ele pode melhorar algumas coisas, até porque as autoridades, de uma forma geral, sabem o que tem de ser feito, mas tem de se esperar para ver”, disse Samantha Singh.
Questionada na altura sobre se o recurso a um programa de assistência financeira do FMI seria uma boa aposta, a analista sedeada em Joanesburgo disse que “Angola já tem seguido as recomendações do FMI, nomeadamente na questão da redução dos subsídios aos combustíveis e à desvalorização da moeda, e, de uma forma geral, nos aspectos orçamentais sugeridos pelo Fundo”.
Angola “já tem cumprido, até certo ponto, as recomendações do Fundo, e é sempre possível recorrer a assistência financeira, mas para já tem ajuda da China”, vincou a analista, lembrando que Angola é o terceiro maior fornecedor de petróleo à China, a seguir à Rússia e à Arábia Saudita.
“A China tem muita influência no país, como aliás noutros países africanos, e isso deverá continuar por um longo período de tempo”, vaticinou.
Folha 8 com Lusa